Referência: GUIDDENS, Anthony. A política de mudança climática. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
Resenha da Introdução e dos Capítulos 1 e 9 da referida obra.
A necessidades de políticas do clima
Viviane de Freitas Cunha[1]
Que esperança existe de que, como humanidade coletiva, sejamos capazes de controlar as forças que desencadeamos? (Giddens, 2010)
A humanidade só se propõe problemas que é capaz de resolver. (Marx apud Giddens, 2010)
Anthony Giddens é um sociólogo britânico preocupado com as consequências do desenvolvimento do mundo moderno, aliás, dessa forma é intitulada uma de suas obras: Consequências da modernidade. Nesta assim como em A política de mudança climática, Giddens vai versar sobre o problema do aquecimento global associado ao problema da segurança energética.
Giddens introduz seu texto com a metáfora dos motoristas de SUVs. Diz o autor que todos somos motoristas desses veículos, uma vez que todos contribuímos para a gradativa mudança climática e, o mais atemorizante, despreparados para enfrentar as ameaças que provocamos e com as quais lidaremos no futuro. Dirigimos os SUVs como se não soubéssemos das inúmeras teorias que se disseminam pelo mundo, alertando sobre os efeitos da mudança climática. No entanto, Giddens esclarece: um grande número de livros foi escrito sobre ela e suas consequências prováveis. Nos últimos anos, essa questão tomou a frente das discussões no mundo todo.
O tema central da obra se dá em torno do paradoxo de Giddens, ou seja, uma vez que o problema da mudança climática não é palpável, o colocamos em segundo plano. No entanto, quando o problema chegue a ser palpável será tarde para que façamos algo que traga efeitos concretos de regressão do estado catastrófico.
Outros problemas asseverados pelo autor são o da própria isenção de culpa da sociedade e o da incapacidade de abstrair presente e futuro. Giddens vai nos dizer que, de fato, os indivíduos têm certa dificuldade de “atribuir o mesmo nível de realidade ao futuro que ao presente” (p. 20) e que por isso o problema parece estar sempre distante. Além disso, cada indivíduo tende a pensar que qualquer atitude que possa tomar enquanto isolado, não ajudará em nada, poucos preocupam-se com o “fazer a minha parte”.
Os meios usados para atingir o “progresso econômico” podem ser extremamente prejudiciais se não forem usados de maneira bem pensada. Para que os danos não sejam ainda maiores, Giddens afirma que se fazem urgentes estratégias políticas bem planejadas, especialmente em países industrializados e, o mais importante, essas estratégias têm de ser suprapartidárias, de maneira que, embora haja troca de governo, a política de mudança climática seja continuada.
O sociólogo adverte que “este não é um livro sobre a mudança climática, mas sobre a política de mudança climática” (p. 36), em outras palavras, podemos entender que não é sobre o problema da mudança climática em si, mas sobre os efeitos da despreocupação total com este problema. E, principalmente, da não-tomada de decisões por parte dos governantes, enfim, do que a ausência dessa política pode causar.
Giddens traz também a fala de estudiosos céticos a respeito da mudança climática e também a postura dos críticos. É aqui que as opiniões se dividem: os primeiros asseguram que o aquecimento global moderno é moderado e não é produzido pelo homem e que o aumento da temperatura não é algo novo, tendo em vista que em outras épocas, o planeta já passou por oscilações desse tipo mais de uma vez. Para os céticos, segundo Giddens, é um exagero gastar reservas econômicas com programas de redução de CO2, enquanto há problemas reais urgentes como a pobreza mundial, a disseminação da aids e as armas nucleares.
Por outro lado, há os críticos, que defendem que o aumento na temperatura é causado pelas ações do homem enquanto indivíduo pertencente a uma civilização industrial, que resultam no efeito estufa, e acreditam que medidas devem ser tomadas para “salvar” o planeta.
A obra é de total pertinência, atualizado e rico em informações. O que podemos depreender desta obra é que Giddens acredita na necessidade de um diálogo entre os estudiosos da causa ambientalista, os empresários e os governos. E que esse diálogo deve associar a problemática do aquecimento global com a da segurança energética. Para o autor, há que se buscar novas fontes de energia renováveis, mas o mais urgente é rever as políticas antes que chegue o momento em que, ainda que haja a melhor das intenções, já não seja possível fazer nada.
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