19 de maio de 2011

A variação do /l/ pós-vocálico*
EVA MÁRCIA DE FREITAS CUNHA
LIDIANE MENDES MARTINS
ROGER COVALSKI GERALDO
VIVIANE DE FREITAS CUNHA

Tema:
A variação do fonema /l/ pós-vocálico.

Introdução:
Através de uma pesquisa feita com duas pessoas inseridas em contextos sociais psemelhantes, pretendemos mostrar o uso de duas variantes de um mesmo fonema; o /l/. e em que contextos essas variações podem ocorrer.

Justificativa:
Buscaremos, através desta pesquisa, verificar se ex-moradores do campo, ao virem morar na cidade, trazem consigo características fonológicas normalmente encontradas nos falantes da zona rural. Para que a pesquisa não ficasse muito extensa, nos fixamos apenas no uso do /l/, sendo assim, a pesquisa contou com perguntas cujas respostas já estavam norteadas para conterem o fonema /l/.

Objetivo:
Esta pesquisa tem o objetivo de apresentar a variação oral do fonema /l/ no final de sílabas e tentar identificar os possíveis motivos que levam o falante a tal variação.

Referencial Teórico:
De acordo com Leda Bisol, o /l/ apresenta variabilidade no seu uso, que pode ser ocasionada por fatores extralingüísticos, geográficos e/ou sociais. Portanto, pode ser pronunciado como alveolar [l], velar[t] ou vocalizado[w]. Quando em posição pré-vocálica, esse fonema realiza-se como alveolar [l], por exemplo, em lua, sala, etc. Estando em posição pós-vocálica, realiza-se como velarizado [t] ou vocalizado [w], por exemplo, em alto, sol, etc.
Dentro da Fonologia Tradicional, essas variantes são ditas livres e de aplicação imprevisível, sendo atribuídas a um indivíduo ou a um grupo social ou regional. Essa variação livre, a luz da proposta de Labov (1966,1969,1972), não é tão imprevisível como parece ser. Afinal, fatores lingüísticos e extralingüísticos podem privilegiar o uso de uma das formas, funcionando como condicionadores”. (Bisol, Leda. 1996. p. 215)
Metodologia da pesquisa:
A pesquisa consistiu, primeiramente, em uma entrevista para situar-nos no contexto social dos entrevistados. A seguir, foram apresentadas a eles imagens as quais em todas as respostas constava a fonema /l/, nosso objeto de análise. Por fim, foi proposto um questionário que induzia os informantes a responderem com palavras em que o fonema /l/ aparecesse.
Como sujeitos de pesquisa temos:
Informante 1 (E): Sexo masculino, 24 anos, escolaridade: ensino fundamental, natural de Jaguarão, morador da zona rural até os 15 anos, classe média.
Informante 2 (M): Sexo feminino, 23 anos, escolaridade: ensino superior, natural de Jaguarão, moradora da zona rural até os 7 anos, classe média.

          Resultados e considerações:
Pudemos observar que o informante 1 (E) utilizava o [l] lateral alveolar vozeado, enquanto o informante 2 (M) utilizava em suas palavras o [w] lateral alveolar vozeado velarizado.
A partir disso, buscamos entender o porque dessas diferenças, já que os dois se situam quase no mesmo contexto social, pois os dois nasceram e moraram parte de suas vidas na campanha e, ao virem para a cidade, o primeiro trouxe sua herança na fala e o segundo não.
O que achamos interessante, mas que, ao mesmo tempo, dificultou por um momento a nossa pesquisa foi quando perguntamos aos dois se os seus pais falavam com o [l], a resposta dos dois foi que não. Isso estaria de acordo para o segundo entrevistado, que não carrega marcas do dialeto rural, mas não estaria de acordo para o primeiro, já que este sim, carrega essas características. Então, nos perguntamos sobre o porquê de a variação ocorrer somente com o primeiro entrevistado. No decorrer da conversa, o informante 1 (E) nos diz que foi criado a maior parte da infância com a sua avó, e ela sim, falava com [l].
O interessante é que o informante 1 mesmo morando na cidade e sendo casado com uma pessoa que sempre viveu na zona urbana e que, portanto, não carrega esses traços, ainda conserva os traços da zona rural, como o [l] e o r retroflexo alveolar, ambos característicos da zona rural.
Chegamos a conclusão de que, talvez, a resposta para nossa pergunta seja o contexto social em que essas duas pessoas vivem, ou seja, o primeiro continua inserido no meio social de antes, conservando os mesmos amigos, a tradição do campo etc., já o segundo se desligou completamente da campanha.
Ao nosso ver, a escola não seria a causadora dessa tal variação, já que o primeiro, apesar de ter estudado até o ensino fundamental, sempre estudou na cidade, enquanto o segundo, mesmo tendo o ensino superior, cumpriu metade do ensino fundamental em uma escola da zona rural.
Essas diferenças no modo de falar têm origem nas experiências que o aluno vivencia fora da escola, dentro de comunidades de fala, mais recentemente denominadas de redes de fala”. (Bortoni-Ricardo, 1985 inFreitas, 1996)
Referências:
BISOL, Leda. Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. EDIPUCRS, 1996.
FREITAS, V. A. L. Mestrado em Lingüística. Universidade de Brasília, UNB, Brasil. A variação estilística de alunos de 4a. série em ambiente de contato dialetal, Ano de Obtenção: 1996.
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