Respondido em avaliação de filosofia Geral, 3º bimestre, do 1º ano do Direito da FURG - com base na leitura de: Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens, de Rousseau.
Rousseau, no início de seu discurso, concebe dois tipos de desigualdade na espécie humana: a um, o autor chamou de natural e, ao outro, de social.
A desigualdade natural ou física é estabelecida pela natureza e consiste, basicamente, nas diferenças físicas entre os indivíduos: a diferença das idades, da saúde, do tipo físico, das forças do corpo e das qualidades da alma.
O segundo tipo de desigualdade concebida pelo filósofo é de cunho moral ou político e é uma convenção que consiste - sob autorização dos homens - em privilégios dos quais uns gozam e, outros, não. Como a riqueza, o poder, etc.
Rousseau, apesar de afirmar que não se pode ligar diretamente essas duas desigualdades, constroi seu discurso como uma espécie de inter-relação entre as duas.
Em havendo homens fortes e em havendo homens fracos (porém espertos), é bem possível supor que o fraco tenha subjugado, sujeitado o forte, a ponto de escravizá-lo; em os tendo oprimido, tornou-se poderoso; em tornando-se poderoso, gozou de prestígio; em gozando desse prestígio, houve os que acreditaram no discurso do "meu" que deu origem à propriedade privada.
Rousseau, na introdução de seu texto, faz o seguinte discurso: "tal desejo [de retrogradar] deve consttuir o elogio de teus primeiros antepassados, à crítica de teus contemporâneos e o temos daqueles que tiverem a infelicidade de viver depois de ti". (p.243)
Em outras palavras, quer dizer que rousseau louva o passado, quando se viva em estado natural, olha para esse passado com a saudade do que não viveu. Rousseau preocupa-se com o caminho tomado pela sociedade de seu presente, causa-lhe indignação, mas preocupa-se ainda mais com o futuro a que estava se encaminhando a sociedade em seu estado civil.
Tamanha é a capacidade de convencimento do filódofo que chegamos a imaginar como verdadeiros civilizados os indivíduos em estado de natureza e a imaginar os "civilizados" como os verdadeiros bárbaros, na busca incessante por estender seu poder e sua propriedade a qualquer preço.
O estado de natureza de Rousseau, diferentemente do descrito por John Locke, por exemplo, não supõe a maldade do homem e nem a guerra de todos contra todos. Para o autor, o estado de natureza era o estado da paz, da solidão. Nesse estado, o homem é bom e vive como qualquer outro animal: alimentando-se, reproduzindo-se, defendendo-se.
Através da maneira como rousseau controi seu discurso, o autor parece desenhar uma linha do tempo, que vai desde que o homem, pacífico e isolado, vive em busca de uma fêmea, de alimentos a fim de satisfazer suas necessidades, passando pelo estágio em que descobre que é capaz de articular sons e instrumentalizar objetos, descobre o fogo - pode reproduzi-lo e mantê-lo -, aprende a fazer abrigos, a viver em família, a organizar-se na agricultura, até chegar ao estágio que Rousseau afirma ter dado fim ao estado de naureza e início ao estado de sociedade civil: o estado de propriedade privada.
O pensamento e, principalmente, o sentimento de rousseau parece ser transferio a nós, leitores. Passamos a olhar com saudade este passado suposto pelo autor e sentimos que o que mais receia, de fato, é não conseguirmos mais parar o progresso (na concepção moderna da palavra), talvez, por isso, tenha utilizado a expressão "desejo de retrogradar".
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