19 de outubro de 2011

Avaliação de Ciência Política

Com base na obra À espera dos bárbaros, de J. M. Coetzee, a partir da seguinte questão:
Disserte sobre a fundação e a manutenção dos discursos civilizatórios de legitimação jurídico-estatal, relacionando os argumentos com a ideia contratualista.

A história contada do livro "À espera dos bárbaros" não tem sua espacialidade e temporalidade definidas. O narrador-personagem diz tratar-se de uma fronteira, ocupada por um império. A planície, outrora ocupada pelo que chamam de "bárbaros" é, agora, uma cidade, com uma fortaleza e um exército, sempre alertas contra possíveis ataques daqueles bárbaros, os quais nunca chegam.
Aos homens que vivem sem uma autoridade entre si, chmam bárbaros. são excluídos porque não celebraram o contrato social que iniciaria seu estado de sociedade civil.
Dentre os vários autores contratualistas, podemos citar Thomas Hobbes e Jacques Rousseau. Quando os homens, vivendo em estado de natureza, percebem seu corpo, sua vida e sua liberdade constantemente ameaçados, eles se unem, compactuando, transferindo seus direitos a uma autoridade suprema (o que Hobbes chama de Leviatã), a qual é responsável por resguardar esses direitos. Esse aitor acredita no poder absoluto do Leviatã. Segundo o autor, este não pode ser questionado. O contrato social, em hobbes, seria um contrato de submissão.
Por outro lado, Jacques Rousseau acredita que esse poder absoluto não seja uma forma de governo aceitável. O povo, ao não ver contemplados os seus direitos, deve - sim - questionar o governante e, se necessário, destitui-lo de seu poder. O contrato, para rousseau, seria um contrato de consentimento. O Estado veio da vontade geral e, portanto, deve assegurar o bem comum da sociedade.
Um dos pontos que diferencia o estado civil e o estado de natureza é o controle de impulsos, das paixões. Na obra de Coetzee, o magistrado passa grande parte do tempo tentando convencer-se de que não deseja sexualmente a moça, porque ela tem cicatrizes, porque ela é uma bárbara e ele é um civilizado e ele deve controlar seus impulsos. No entanto, cede, ao fim. E sua construção discursiva nos leva a crer que foi a jovem que insistiu. Não foi capaz de controlar seus impulsos. Seria ele um bárbaro por isso?
Há, na obra, uma tensão por parte de todos os personagens, exceto do magistrado, de que o forte será atacado a qualquer momento. No entanto, jamais viram um guerreiro bárbaro se aproximar. Vivem à espera de algo que não chega.
Ao que parece, os bárbaros aceitam o tratado social de não fazer guerra. Hugo Grócio acredita que a guerra seja necessária, quando seu objeto final é a paz. A guerra nasce de altercações entre semelhantes e essas altercações nascem do desrespeito ao direito do semelhante.
Há, porém, que se qualificar a guerra como justa ou injusta e isso só depende de sua motivação. Se quiser aniquilar o direito do "outro", é injusta. Mas se esse outro tiver seu direito aniquilado, é justo guerrear por ele. Antes de começar a guerra, faz-se necessária uma negociação entre as partes. Se, desta negociação, faz-se um acordo é certto que uma das partes ou as duas cedam alguns direitos em nome da paz. Se há acordo, não há guerra.
Na obra, o acordo é feito: os bárbaros contentamse com as montanhas, mas os soldados do império esperam pela guerra, talvez, por acharem que a guerra, caso ocorresse, seria justa, afinal, os bárbaros teriam direito de lutar por suas terras. Então, temendo essa guerra "não anunciada", os soldados, em nome da manutenção  e da expansão do império, castigam o que sequer conhecem.
Percebe-se que os bárbaros queriam distância daqueles colonizadores, tanto quee, para encontrá-los, foi necessário três semanas de viagem. Em suma, em nome da manutenção da ordem civil, deve-se aniquilar aquele que não compactua, que não se submete.
A obra prima pela riqueza de detalhes, chega a fazer o leitor sentir as dores da viagem fria ao encontro dos bárbaros. Talvez, não se situe num tempo e num espaço específicos porque trata de um tema geral, algo que poderia ter acontecido em qualquer fronteira, em qualquer época, uma vez que sempre haverá a negação do "diferente". No entanto, negar (neste caso, negar os bárbaros) significa também afirmá-los como indivíduos, como existentes e atuantes, uma vez que são 'ameaçadores'.
Ao fim, já está o leitor desacomodado (e acredito que este seja o objetivo do escritor-modelo). Ao fim, já está o leittor em dúvida sobre quem é o civilizado (aquele que tortura pescadores e crianças?) e quem é o bárbaro (o nômade submisso?).
Talvez o título seja uma metáfora e possa ser interpretado como um estado de espera dos bárbaros... os bárbaros que eles próprios (os civilizados) se tornariam em nome dos discursos civilizatórios.

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